São José, mestre de oração

março 19, 2024 /

 

Dom Gílson Andrade

 

 

Rezar é um dom que o Espírito Santo nos concede para o trato filial com Deus, nosso Pai, por meio de Jesus. Através do dom da piedade somos movidos pelos sentimentos do Filho, no seu afeto filial ao Pai e crescemos na confiança e no abandono.

Assim, na importante tarefa da oração, somos primeiramente ajudados pela graça de Deus que age em nós. Jesus nos lembra que ninguém vai ao seu encontro se o Pai não atrair (Jo 6, 44). O coração de todo ser humano tem sede deste encontro com Deus, ao qual a oração convida. Porém, cada um deve fazer a sua parte, pois Deus sempre respeita a nossa liberdade.

Além da ajuda do Espírito Santo e da própria vontade pessoal, é preciso contar com os chamados “mestres espirituais” que encontraram respostas para facilitar o árduo caminho da vida interior. Dentre eles, destaca-se a figura de São José, cuja festa celebraremos neste mês de março.

Além de ser padroeiro dos trabalhadores, ele é também considerado “mestre de vida interior”. Assim o denomina Santa Teresa D’Ávila que diz que se alguém não sabe rezar deve a ele recorrer, pois ele ensinará.

Vivendo em toda a Igreja este ano da oração, como preparação imediata ao Jubileu de 2025, propusemos que, em nossas paróquias, não somente haja várias iniciativas de oração, mas também se favoreça o seu aprendizado. Nós todos temos necessidade de aprender de alguém esta arte insubstituível na vida do discípulo do Senhor. Por isso, aqui gostaria de indicar este mestre espiritual, o grande São José. Numa de suas catequeses sobre a oração, o Papa Francisco disse que “os santos ainda estão aqui, não distantes de nós” (Audiência geral, 7 de abril de 2021).

Podemos nos confiar a São José e aprender o seu exemplo de homem de profunda comunhão com Deus e, por isso, de pronta resposta ao seu chamado nas mais variadas circunstâncias da vida, em atitude sempre de servidor.

O que José nos ensina acerca do trato com Deus? As poucas palavras relativas à sua pessoa nos Evangelhos já nos abrem um grande horizonte sobre este tema. Destaco inicialmente o seu fecundo “silêncio”. Mais do que nunca vemos a necessidade de se redescobrir a capacidade de escutar. Fala-se muito hoje sobre o papel fundamental do diálogo tanto nas famílias, como na Igreja e na sociedade. Entre as diversas condições para o diálogo, a primeira sem dúvida é a capacidade de escutar. Para isso é decisivo o silêncio. Não se trata de calar-se simplesmente, mas de aprender a ouvir. Sem o silencio falta a base para todo o diálogo.

A oração é diálogo com Deus. São José, no seu silêncio, soube acolher a vontade de Deus que, num primeiro momento, pareceu-lhe distante e difícil de aceitar. No espaço do seu coração ressoava a Palavra de Deus que ele procurou cumprir com prontidão e entrega total.

Além disso, vida interior de São José estava unida a Jesus e a Maria. Jesus era o sentido dos seus dias, do seu trabalho na carpintaria, das suas escolhas e decisões importantes e simples. Junto de Jesus, estava também Maria, que Deus lhe fez entender não poder separar do mistério do Filho. Assim, com São José aprendemos também a intimidade com Nossa Senhora que sempre nos oferece Jesus, como o ofereceu ao próprio José.

 

*Dom Gilson é carioca, nascido no Méier e criado em Mendes no sul fluminense. Fez parte do clero de Petrópolis, estudou em Roma e foi bispo auxiliar de Salvador (BA). Nomeado pelo Papa Francisco em 27 de junho de 2018, tornou-se o 6º bispo da Diocese de Nova Iguaçu. Em 2018, durante a 57ª Assembleia Geral da CNBB, foi eleito pelos bispos do Rio de Janeiro como Vice-presidente do Regional Leste 1 – CNBB.