ORDEM E PROGRESSO, OU RELIGIÃO E REGRESSO?

fevereiro 28, 2024 /

Por Leandro Miranda

 

 

Desde a fundação do reino de Portugal, em 1139, a Coroa Portuguesa se aliou ao
Vaticano e a Igreja Católica passou a ser a religião oficial do Estado. Em 1822, o Brasil ao
se tornar independente, continuou a ter a Igreja Católica como religião oficial até a
Proclamação da República, em 1889. Mas, durante o século XIX, a relação da Igreja
Católica com o Estado brasileiro seria muito questionada, principalmente por uma
aliança entre a Maçonaria e a Igreja Protestante, que argumentavam não ser democrático
o Estado ter uma religião oficial, por gerar impedimentos para o crescimento de outras
religiões. Essa relação seria tão próxima que cultos evangélicos eram realizados em lojas
maçônicas, já que não dispunham de espaços para seus encontros.

Difícil imaginar, hoje, a Igreja Evangélica no Brasil andar de mãos dadas com a
Maçonaria, já que tendem a demonizar tudo aquilo que foge às fronteiras do que pensa a
sua liderança. Mas é possível pensar quando tendem para alianças políticas, no sentido
de negociar aquilo que é de interesse deles. É muito contraditório que esses que
protestaram contra a relação da Igreja Católica com o Estado, organizarem uma passeata
coordenada e financiada por um ‘pastor’ (de ovelhas ou de curral eleitoral?), no sentido
intencional de querer que a Igreja Evangélica seja a nova religião oficial do Estado, para ter
um presidente com um tipo de guru, ou conselheiro, ou profeta ao lado, como se ainda
vivêssemos no Antigo Testamento e num Estado teocrático; já que ser democrático deve
ser interpretado como algo ligado ao demônio e esse seria o problema do Brasil.

A impressão que dá é que a Igreja Protestante gritou tanto para separar a Igreja
Católica do Estado que, diante de tantas coisas pertinentes, dá para vislumbrar uma
estratégia intencional de querer ocupar esse mesmo lugar. É bom lembrar que ‘ovelhas’
não vêm marcadas com números do título de eleitor, não devem agir como ‘vacas de
presépio’, nem serem guiadas pela ‘ameaça do cajado’ e aos gritos do pastor. A verdadeira
Igreja de Cristo não é lugar de negociar em números ovelhas votantes, no sentido de
promover determinado político e interesses que fogem exclusivamente à fé cristã, com o
discurso de querer libertar o Brasil de qualquer ideologia, que será sempre demonizada
quando contrária às suas convicções, ignorando o fato de que discurso político se debate
com argumento político e entre políticos.

O Estado é laico e deve governar o Brasil, um dos países mais religiosos do
mundo, cuja diversidade forma a sua identidade cultural, visando ter um povo de boa-fé
não de ‘fés’ intencionais. Um ato político dito patriota, deveria começar com, pelo menos,
o Hino Nacional, ou Hino da Independência, ou Hino da Bandeira, que são belíssimos e
visam enaltecer nossa soberania e não com orações e apelos emocionais premeditados.

*Leandro Miranda, ativista cultural, é artista de Nova Iguaçu.