Natal: festa da proximidade

dezembro 23, 2022 /

*Dom Gílson Andrade

 

 

Os pastores, na noite de Natal, após terem ouvido através do Anjo o anúncio do nascimento do Senhor, disseram entre si: “Vamos já a Belém e vejamos o que aconteceu e que o Senhor nos deu a conhecer” (Lc 2, 15).  As palavras daqueles homens simples são ainda hoje um convite e um modo de celebrar o Natal do Senhor.

Deus vem ao nosso encontro, mas também nós somos convidados a dar passos para acolher o que Ele nos oferece. Deus conta com as nossas iniciativas. Ele não atropela a liberdade humana, mas a coloca num patamar superior, dando uma nova possibilidade de encontrá-lo e de entrar no seu Reinado. Responder a Deus que fala na história pede de nós a atitude de ir ao encontro de suas promessas e realizações. Diante da ação de Deus não cabe a indiferença ou a distração. Ele nos pede atenção e acolhida. A fé nunca é uma coisa automática. Além de ser um dom e uma tarefa, ela é também escolha.

Os pastores primeiramente tomam a decisão de ir ao encontro do fato para fazer uma experiência pessoal: “vejamos o que aconteceu”, dizem eles. A fé cristã é dinâmica, requer acolhida dos dons de Deus e pede da nossa parte abertura para entrar na novidade que Ele quer propor. Não basta saber as coisas relativas à fé, é preciso deixar agir em nós a sua força que transforma a vida e a realidade ao nosso redor.

A celebração anual do Natal do Senhor nos ajuda a atualizar o mistério daquela noite santa, no contexto em que vivemos. Deus se fez carne, irmanou-se com a humanidade, para estar ao nosso lado sempre. Ele o fez de forma extraordinária, tornando-se pequeno, preferindo a estrada da humildade para facilitar a nossa aproximação dele.

Para ir ao seu encontro, portanto, é preciso tornar-se pequeno, com uma pequenez que não tem nada a ver com humilhação, mas que é atitude de quem se sabe filho. Os sentimentos de filhos de Deus são os melhores sentimentos para que celebremos bem a festa do Natal do Senhor: filhos de Deus e, portanto, irmãos entre nós.

Estar diante do presépio, além da admiração provocada pelas formas artísticas, tem que nos levar a uma inquietação para entrar na cena, como um personagem a mais e interagir com os que fizeram parte do primeiro Natal, atualizando a cena. Como os pastores, somos chamados a ver de novo o acontecimento e nos deixar interpelar pela cena do presépio de Belém.

Deus, em Jesus, se faz irmão dos seres humanos. O que era distante agora tornou-se próximo. O Natal deste ano pede ainda mais uma experiência do encontro com Cristo que nos desperte para uma nova consciência da fraternidade radical que existe entre nós. Não há motivo suficiente para estarmos distantes uns dos outros, uma vez que Deus se aproximou de nós e nos fez radicalmente irmãos e irmãs.

Ao ver Deus tão próximo que nos deixemos aproximar de quem está distante do coração e de quem é afastado propositalmente para que esteja longe do nosso olhar e da nossa compaixão. O Natal é a festa da proximidade, de sair ao encontro de Cristo que insiste em continuar vindo através da pequenez, da humildade de um ser humano, especialmente frágil e necessitado, como o Menino nascido naquela noite escura e fria.

Que o seu e o meu Natal sejam marcados pela atitude dos pastores que saem ao encontro, mesmo se está escuro e frio, mesmo se a noite nos dá medo. Ir em busca de Cristo que se torna próximo onde jamais poderíamos imaginar encontrá-lo, superando qualquer barreira para celebrarmos juntos um Natal de irmãos. Feliz Natal!

 

**Dom Gilson é carioca, nascido no Méier e criado em Mendes no sul fluminense. Fez parte do clero de Petrópolis, estudou em Roma e foi bispo auxiliar de Salvador (BA). Nomeado pelo Papa Francisco em 27 de junho de 2018, tornou-se o 6º bispo da Diocese de Nova Iguaçu.