ESTAMOS EM GUERRA

setembro 3, 2019 /

Domingos Meirelles
A sociedade brasileira ainda não conseguiu dimensionar a verdadeira crise em que vivemos, a maioria da população comporta-se como os personagens que povoam as páginas de Ensaio da Cegueira, do português José Saramago, que não enxergavam o que ocorria à sua volta, apesar de não terem problemas de visão. Está em curso no Brasil uma guerra civil
não declarada. Essa luta silenciosa aparece retratada apenas em rápidos flashes, seja na internet ou através dos tradicionais veículos de comunicação para que não se tenha a percepção correta do que realmente está acontecendo no campo de batalha. A imprensa tem dispensado à vida política brasileira o tratamento dos folhetins, onde realça apenas o que convém ao momento, deixando para os próximos capítulos o que realmente interessa . O grande confronto historicamente nunca aparece na boca de cena. Ele se esconde atrás das cortinas, desenrola-se nos bastidores, nas coxias de Brasília, onde está sendo travada a grande queda de braço entre Legislativo, Executivo e Judiciário. A parte visível desse embate é a que aparece como uma novela na tevê, as intermináveis escaramuças da burocracia corporativista contra o destrambelhado ímpeto reformista do atual governo. As grandes questões nacionais estão sendo desidratadas, dissolvidas em discussões passionais que no passado faziam a delícia dos sambas-canções. Não há mais espaço para se aprofundar o estudo de temas relevantes, permitiu-se que o supérfluo se travestisse de uma importância+que não possui. A guerra civil em curso representa um conjunto de reivindicações do cidadão comum em defesa da cidadania e da prestação de melhores serviços públicos, que as aposentadorias sejam justas para todos, que o pagamento de impostos deixe de consumir cerca de duas mil horas por ano do contribuinte. Não se pode mais tolerar que se pregue a virtude cometendo pecados. Nossa guerra civil está se desenvolvendo em várias frentes. As esquinas estão se transformando em trincheiras, luta-se agora em cada quarteirão. O eleitor está se conscientizando do seu papel no processo de construção de uma verdadeira Nação. Ele começou a renegar o lugar de coadjuvante que sempre lhe reservaram para ser o ator principal de uma
política comprometida com os novos tempos. Churchil dizia que espadas não eram as únicas armas, podia-se fazer muita coisa com as palavras. O poeta gaúcho Mário Quintana afirmava que
“os livros não mudavam o mundo, eles tinham apenas a virtude de mudar as pessoas. Elas é que mudavam o mundo “. Que assim seja.
* Domingos Meirelles  é jornalista e escritor, ex_presidente da ABI e atualmente apresenta o Câmera Record.