Vicente Loureiro

Assim são chamados certos prédios gigantescos construídos em algumas cidades do mundo. Um deles, talvez o maior, o Hangzhou Regent International, situado na cidade chinesa de mesmo nome. Concebido inicialmente para ser um hotel de luxo mas acabou transformado em um complexo habitacional com capacidade de abrigar de 10 a 20 mil pessoas em lofts entre 70 e 210 metros quadrados. Subdivididos às vezes em unidades menores, a ponto de um com 90 metros quadrados dar lugar a 6 quitinetes ou equivalente.

Esse edifício com mais de 200 metros de altura e 39 andares além de manter alguns serviços de hotel, reservou espaçosos para comodidades urbanas do tipo supermercado, cafés salões de beleza, barbearias praça de alimentação e outros destinados ao lazer entretenimento. Sua excelente localização, fica a 4 minutos a pé da estação do metrô mais próxima, e os ambientes internos sofisticados parecem amenizar as dificuldades de conseguir elevador nas horas de pico e da ocasional falta de privacidade nos quartos. Apesar disso ele continua atraindo um público jovem e de alto poder aquisitivo. Vive lotado.

Edifício Monstro em Hong Kong.

Outro exemplo de construção como se fosse uma cidade dentro da cidade encontra-se Hong Kong também na China. Um conjunto de prédios conectados entre si, batizado de Yick Cheing Building mas popularmente conhecido como Edifício Monstro, composto por mais de 2.240 apartamentos e com pavimento térreo e sobreloja tomados por atividade comerciais e de prestação de serviços. Segundo estimativas residem nele entre 7 e 10 mil pessoas. Seu aspecto de certo modo claustrofóbico não o impediu de virar atração turística, a ponto inclusive de se tornar o local mais instramável de toda a ilha de Hong Kong.

Na cidade de Kodrovo na Rússia nasceu o Novi Okkervil, um outro gigante desenhado para receber até 20.000 moradores. Localizado a 25 minutos de uma estação de metrô e de lá até o centro de São Petersburgo mais 25 minutos de viagem fez desse Edifício Cidade um lugar conveniente de se morar. Daí a taxa de ocupação sempre alta. Os preços acessíveis, taxa de condomínio barata e as inúmeras comodidades urbanas presentes no conjunto ou ao seu redor são atrativos importantes, a ponto de alguns moradores do local, usuários do home-office, levarem meses sem precisar sair do prédio.

edifício cidade localizado na região metropolitana de São Petersburgo na Rússia.

Há ainda um caso singular desse tipo de edificação. Fica em Witthier no Alasca. Uma minúscula cidade onde quase todos os moradores vivem em um único prédio: o Belgich Tower com 14 pavimentos onde moram 274 pessoas, estando nele instaladas também uma delegacia de polícia, uma igreja, uma agência de correio, mercados , lojas centro médico e espaços de lazer. Por aqui no Brasil a construção que pode ser considerada um Edificio Cidade é o Copan em São Paulo, onde podem residir até 5.000 pessoas o que acontece em quase 1200 municípios do país. E se por acaso ele fosse do tamanho dos outros listados acima, poderia dizer que estaria incluido nos 2/3 das cidades brasileiras com população de até 20 mil habitantes.

edifício da minúscula cidade localizada no Alasca.

Em tempo de verticalização e de previsão do crescimento do parque imobiliário das cidades médias e grandes, é bom considerarmos os prós e contras dessas “inovações urbanas”. É possível que apareçam empreendimentos semelhantes em algumas delas nos próximos anos. Fica claro no exame dos Edifícios Cidade citados que os aspectos de localização e as comodidades e serviços nele disponíveis superam as desvantagens e incômodos presentes também em tais complexos. Trata-se portanto de tema a merecer avaliações e debates sobre seus impactos e serventias nas cidades. Vale conferir.

*Vicente Loureiro, urbanista, arquiteto, doutorando pela Universidade de Lisboa, autor dos livros Prosa Urbana e Tempo de Cidade.