A caminho do novo Natal de Jesus

novembro 29, 2023 /

 

*Dom Gílson Andrade

 

 

Com o início do Advento, neste domingo, abre-se um novo ciclo das celebrações dos mistérios da fé cristã, na liturgia da Igreja Católica. O ciclo litúrgico anual tem como tarefa apresentar todo o arco do mistério e dos mistérios de Cristo na Igreja. Assim o Povo de Deus, ano após ano, tem a possibilidade de mergulhar no mistério e revivê-lo, fazendo dele o caminho do seu próprio mistério de salvação, vivendo na vida concreta a vida de Cristo.

O fato de nos acostumarmos a participar das tantas celebrações pode nos levar a perder o sentido profundo do celebrado. Digo isso porque, embora o Concílio Vaticano II tenha promovido uma reforma litúrgica com a finalidade também de favorecer a participação ativa e consciente dos fiéis, corre-se o risco de que isso esteja longe da nossa prática. Pode-se confundir participação com mera atividade externa: gestos, cantos, atitudes, etc. Estas realidades também fazem parte, mas o exterior deve corresponder ao interior.

O fiel cristão é chamado a tomar parte da liturgia indo além das meras formalidades exteriores. Ele, pela força do Batismo e dos outros sacramentos da Iniciação Cristã (Eucaristia e Confirmação), é profundamente ligado à doação que Cristo fez de si no Calvário para a salvação do mundo. Assim, através da celebração eucarística, todo fiel toma parte, de fato, da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor e colhe os seus frutos para a vida pessoal, familiar e em sociedade.

Com o Advento iniciamos um novo ciclo da vivência dos fatos da vida e da missão de Cristo. Neste ano, a partir deste primeiro domingo do Advento, torna-se obrigatório o uso da tradução da 3ª edição típica do Missal Romano, que foi concluída após um trabalho de 19 anos no Brasil.

Tudo isso acontece no contexto da preparação do Natal do Senhor que é, para nós, a primeira grande festa do novo ciclo litúrgico. É bom que seja assim, que nos preparemos através da oração para o novo nascimento de Jesus no Natal.

Gosto sempre de recordar que é “novo”. Novas são as circunstâncias de nossa vida, novo é o panorama existencial e social em que nos encontramos. Deus quis se tornar homem num contexto histórico, cultural e social precisos. Também hoje a presença de Jesus no seu Natal é luz na caminhada concreta de cada pessoa e da humanidade inteira.

Nas palavras do Anjo, que anunciou a feliz notícia do nascimento de Jesus, encontramos a força da mensagem que orienta a história de todos os tempos: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados”. Onde Deus está presente há possibilidade de um novo contexto de vida e de paz para os seres humanos.

Vivemos numa sociedade altamente secularizada, onde até as festas religiosas vão perdendo a sua transcendência e se confundem com os apelos meramente naturais da existência humana. Revalorizar a presença de Deus, deixar-se interpelar pela sua mensagem, pode nos trazer uma outra história possível, capaz de superar as feridas de uma humanidade entrincheirada no egoísmo e na vaidade.

Este ano também se celebram os 800 anos do primeiro presépio, realizado por São Francisco, em Greccio, na Itália. Somos convidados a recuperar esse símbolo, montando também nós o nosso presépio.

Que este tempo de preparação para as festas natalinas alcance sobretudo os corações e, diante de Jesus Menino na Manjedoura, nos comprometamos a ser instrumentos de paz e de uma nova civilização.

*Dom Gilson é carioca, nascido no Méier e criado em Mendes no sul fluminense. Fez parte do clero de Petrópolis, estudou em Roma e foi bispo auxiliar de Salvador (BA). Nomeado pelo Papa Francisco em 27 de junho de 2018, tornou-se o 6º bispo da Diocese de Nova Iguaçu.